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28 de Maio de 2004

Clipping - Jornal da Globo - Risco não anunciado

Crianças trabalham dentro d´água, no meio da noite, no Pantanal, que é habitat natural de jacarés.

É o que os repórteres Cláudia Gaigher e Argemiro Barros encontraram numa região isolada de Mato Grosso do Sul.

O dia chega ao fim e começa mais uma noite de trabalho para as crianças. Elas carregam a canoa e saem remando pelo Rio Paraguai. Em terra firme, separam o material pra catar isca, seguem a pé pelo meio do mato. Vinte minutos de caminhada. O serviço é dentro da água, no meio dos corixos, os alagados do Pantanal.

O cupim é jogado na flor d'água pra atrair os pequenos peixes que se alimentam à noite. O estralar de dedos é o segredo.

É pra pegar a tuvira, um peixinho vendido a 15 centavos como isca aos pescadores do pantanal, que as crianças passam a noite inteira assim. ficam com água até o peito na escuridão. O risco é que esse peixinho também atrai jacarés e sucuris.

José Henrique, dez anos, cata isca desde os sete. Nunca foi a escola. Já foi atacado por um jacaré numa das noites de trabalho. "Eu bati nele com facão, daí nóis matamos ele", conta.

Aos sete anos Danielle fica só com o pescoço fora d'água e nem se dá conta do risco que corre. Os peixes, se escondem entre as raízes das plantas aquáticas. É preciso abrir caminho. A lona preta cobre a tela. Quanto mais escuro, mais peixes aparecem.

No isolamento do Pantanal, é assim que muitas crianças crescem. Trabalham desde cedo. Não têm certidão de nascimento, não sabem o que é direito à Educação. Mostramos as imagens para a coordenadora do programa de erradicação do trabalho infantil, no Mato Grosso do Sul.

Ela ficou surpresa com o que viu. "De repente a gente não tem uma solução com a rapidez que o caso requer mas temos que buscar alternativa. Vamos ter que buscar uma forma, nem que seja uma escola flutuante", afirma Marina Sampaio, coordenadora do PETI, MS.

Hora da ação

Depois das cenas vergonhosas de exploração do trabalho infantil em Mato Grosso do Sul, hoje o governo estadual prometeu escola para as crianças e assistência para as famílias.

Foram 12 horas de viagem até as colônias na Serra do Amolar, um dos lugares mais isolados do pantanal em Mato Grosso do Sul.

Os representantes das secretarias estadual e municipal de educação e da ação social, técnicos do programa de erradicação do trabalho infantil, o Peti, da Delegacia Regional do Trabalho e do Conselho Tutelar encontraram mais de 30 crianças, todas fora da escola.

"Primeiro passo vai ser providenciar registro para todas as crianças, estruturar a escola e num outro momento incluir estas crianças num programa social para que elas possam receber, pelo menos, alimento todo mês, que é uma cesta básica", diz coordenadora do Peti, Marina Sampaio.

Ontem o Jornal da Globo mostrou crianças que arriscam a vida e passam a noite catando iscas nos alagados do Pantanal. Daniele e José Henrique, que trabalham com água pelo pescoço, foram ouvidos pelos técnicos. "eles declararam que eles trabalham com os pais. Demos uma orientação para que afaste estas crianças do trabalho, mas é difícil", afirma a fiscal do trabalho Izarina Dias.

Hoje o governo do estado admitiu que é difícil levar assistência às populações isoladas do Pantanal e determinou medidas imediatas para atender as famílias na Serra do Amolar. O secretário de governo de Mato Grosso do Sul mandou um barco até a região para levar atendimento médico à população e prometeu escola para as crianças.

"Nós já mandamos para o local cestas básicas, cobertores. Já foi autorizada a construção de uma escola no local que ficará pronta em quatro meses e criança na escola não trabalha", afirmou o secretário de governo Paulo Duarte.

Fonte: Jornal da Globo - TV Globo

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