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06 de Abril de 2020

Artigo - Águas de março - por Makelly Toral de Souza Barreiros

Ufa! 31 de março, finalmente! Esperava, ansiosa, pela queda das águas de março. O terceiro mês do ano; promessa de vida e alegria no meu coração.

Trigésimo primeiro dia; o derradeiro. Abri os olhos e liguei o celular. Estranhei não ter visto as mensagens de “Bom dia!” em nenhum grupo de WhatsApp. Não li nenhuma daquelas mensagens que repetidamente eram publicadas pelos meus pais em todos os grupos das redes sociais. Sim, eles encaminham as mesmas mensagens em todos os grupos, além de postar no status, no Facebook e no Instagram; uma verdadeira overdose. Acho que nunca pararam para pensar que uma única pessoa poderá receber a mesma mensagem noventa e sete vezes.

Os desejos de um dia maravilhoso, postados em todos as redes sociais, bem como as correntes angariando bênçãos e promessas milagrosas de me transformar em uma mulher linda, rica e maravilhosa, com a única condição de encaminhar a mensagem para um número pequeno de pessoas, somente vinte e cinco, foram sufocas e substituídas por mensagens sobre a V. Majestade, a Coroa Mundial.

Ai que saudades que tenho daquelas auroras de minha vida com as mensagens e desejos de um “Bom dia!”

Passei os olhos em um mil, novecentas e noventa e sete postagens que diziam: fica em casa; vai trabalhar; passa álcool em gel; bebe um pouco de álcool; usa máscara; não usa máscara; tira a roupa; toma banho; joga água sanitária; mantenha distância; não beija; não abraça; não chega perto - cruz credo, Ave Maria; home office; home schooling (cada nome chique para cada perrengue); evolução espiritual; coaching; 1, 2, 3, 4, 5, 6... 189 mortos; 1000, 1001, 3000 infectados; lock down; pacotão de medidas; meu Deus, o papel higiênico vai acabar; demite funcionários; dá férias; redução de jornada de trabalho; plantão; Resolução do CNJ, Provimento da Corregedoria; outro Provimento da Corregedoria; e mais um Provimento; Medida Provisória; manda parar; manda continuar; fecha tudo; abre tudo; abre quase tudo; isolamento vertical; isolamento horizontal; faz faxina; vídeo do médico, do infectologista, do Ministro da saúde, do Presidente, do buda, do pastor, do padre, do economista, do especialista; todo mundo vai morrer; não vai morrer; pega a panela; bate a panela; bate palmas para o médico, para o enfermeiro, para o frentista, para o caixa do mercado, para os motoboys, para o caminhoneiro, pede ajuda para os santos e para os orixás. E eu só peço para o mês acabar.

As águas de março, por mim tão amadas, mês de comemorar e brindar por minha saúde, paz e alegria, trouxeram promessas de vida; porém turbulentas. E eu que pensei que água era só sinônimo de calmaria, enganeime. Ela é sinônimo de vida e, como tal, segue seu fluxo, num mistério profundo, adaptando-se durante todo o seu trajeto. Ainda que por um fio, ela ultrapassa os mais estreitos e dificultosos caminhos. Num queira ou não queira, pode chegar a uma majestosa queda ou no fundo do poço; e mesmo ali, inicia um novo caminho, tal como cantaram Elis e Jobim.

Seja bem-vindo abril!

No dia primeiro, saudei com “Bom dia!” todos os cento e doze grupos de WhatsApp. Postei no Instagram e no Facebook. Ah! No meu status também.

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