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04 de Julho de 2018

Clipping - Folha da Região - 100 anos registrando Araçatuba

No mês em que completa seu centenário, Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Araçatuba abre o livro da sua história
O Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Araçatuba completa 100 anos de existência neste mês. No livro 1, o primeiro ato de registro civil lavrado no cartório foi de um casamento, em 01/06/1918.

Na época da fundação, esteve à frente do cartório o oficial José Augusto Pereira, quando o endereço de funcionamento ainda era na rua Carlos Gomes.
 
Ao longo de todos esses anos, não é possível saber a quantidade de certidões lavradas no local, mas é certo que ele deu cidadania a milhares de pessoas, uniu muitos casais, participou também dos momentos mais difíceis da vida de muitos, e, desta forma, ajudou a escrever a história de Araçatuba.

História que se confunde com a da família de Sílvia Guarinion Corrêa Lodi, de 70 anos, atual oficial do cartório. O avô dela foi o segundo oficial. Depois, veio seu pai, Joaquim Geraldo Corrêa. Conhecido como “Zizinho”, ele foi prefeito de Araçatuba por três vezes: 1947 (nomeado), de 1948 a 1951 e de 1956 a 1959 (eleito), além de vereador por dois mandatos.
 
Em 1983, Zizinho sofreu um infarto e teve que se afastar das obrigações do cartório. Na época, ele tinha três funcionárias, mas nenhuma delas quis assumir o controle. Foi então que Sílvia entrou em cena. “Na época, eu já era casada e morava em São Paulo, onde eu dava aulas, porque sou formada em Pedagogia. Quando o papai me ligou dizendo que precisava de mim, imediatamente vim embora para Araçatuba e assumi a direção do cartório”, relembra.

Sílvia conta que, apesar de a mudança ter sido muito grande na vida dela, ela já conhecia o básico do trabalho. “O papai fazia questão de que os filhos aprendessem a rotina do cartório. As funções básicas, como fazer registros de nascimento, casamento e óbitos, eu já sabia. Depois, aprendi as outras coisas no dia a dia e também contei com o apoio dos funcionários da época”, revela.

Para ela, o cartório representa a própria vida. “É a minha história, porque sou responsável por tudo aqui. Tudo passa pelas minhas mãos. Aprendi e aprendo muito a cada dia. O mais interessante é que, ao longo desses anos, passei a ter amizade com muitas pessoas das quais fiz o registro de nascimento e oficializei casamento. É uma felicidade imensa”.

Atualmente, o cartório está instalado na rua General Glicério, 311, Centro de Araçatuba e conta com quase 20 funcionários. Oferece os serviços de registros de nascimento, casamento, óbito, autenticações, reconhecimento de firma, dentre outros.

Por mês, realiza uma média de 90 casamentos, registra aproximadamente 180 óbitos e cerca de 200 nascimentos. Uma das curiosidades é que os nomes mais registrados são Miguel e Alice. Já a primeira união homoafetiva ocorreu em abril de 2011, e desde então, já contabiliza 20.

COLEÇÃO DE HISTÓRIAS

Sílvia destaca que, desde quando assumiu o controle do cartório, vivenciou muitas situações. Muitas delas engraçadas, que a fizeram rir bastante.

Certa vez, um pai chegou para registrar os filhos trigêmeos, mas, acabou se esquecendo do nome de uma das crianças. Foi então que ligou para a esposa para perguntar. “Quando ele disse à mulher que tinha esquecido o nome de um dos filhos, eu não pude deixar de ouvir a voz bastante alterada dela, dizendo que não tinha cabimento isso, como ele podia ter esquecido o nome do próprio filho. Foi algo bem inusitado”, conta.
 
Mas nem só as lembranças boas ela guarda na memória. Um dos momentos mais difíceis, segundo ela, foi quando registrou o óbito de seis jovens que morreram em um trágico acidente. “Foi a situação mais triste que presenciei. Vi aqueles pais e aquelas mães chorando, desesperados, tendo que registrar a óbito dos filhos tão jovens”.
TIÃO CARREIRO
Os livros do cartório trazem registros de celebridades, como o cantor, compositor e ícone da música de viola, José Dias Nunes, o eterno Tião Carreiro, que morreu em 1993.

O cantor nasceu no dia 13 de dezembro de 1934 em Montes Claros, Minas Gerais. Ainda criança, se mudou com a família para uma fazenda no município de Valparaíso, região de Araçatuba.

Mas o registro de nascimento foi tardio, 20 anos depois e feito por ele mesmo, no Cartório de Registro Civil de Araçatuba no dia 13 de julho de 1954. Em dezembro do mesmo ano, Tião oficializou a união com a esposa, Nair Avanço Dias, também no cartório de Araçatuba.

30 ANOS DE TRABALHO

Jorge Celso da Cruz, 48, é um dos funcionários mais antigos do cartório. O oficial substituto trabalha no local há 30 anos.

Segundo ele, o maior desafio é lidar com os sentimentos das pessoas. “A gente lida com todo tipo de emoção aqui. Desde o pai, que vem radiante registrar o nome do primeiro filho, até a pessoa que chega, muitas vezes chorando, para registrar o óbito de um ente querido. Isso mexe muito comigo”, revela.

Cruz conhece o cartório mais do que ninguém. Sabe desenvolver todas as linhas de trabalho lá dentro, porém, o que mais gosta de fazer é atender o público. “Ao mesmo tempo em que eu fico emocionado com as diferentes motivações que trazem as pessoas até nós, o que mais gosto é justamente desse contato com elas. Isso me faz muito bem”, destaca.

A aposentadoria está prevista para daqui um ano e meio. Mas, questionado se vai parar de trabalhar após isso, Cruz já adianta. “Vai depender da patroa, né. Se depender de mim ficarei aqui até quando eu puder trabalhar”, finaliza.

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