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23 de Junho de 2022

Em homenagem a seus 80 anos de história, Celly Campello ganha filme sobre sua vida

Arpen/SP conversou com o cineasta Luiz Alberto Pereira, diretor de “Um Broto Legal”, longa-metragem sobre a vida da cantora paulista; e ainda a jornada de sua carreira como precursora do rock no Brasil

Muito se fala sobre os artistas precursores do rock no Brasil, o gênero musical que teve origem em meados da década de 1950 como uma mistura do jazz, do blues e do country, e que em pouco tempo se estabeleceu como o principal ritmo dos jovens. De Chuck Berry, nos princípios dos anos 50, passando por Elvis Presley e The Beatles, que chegaram ao auge em 1960, além de outros artistas, que ganharam a fama nas décadas seguintes, em pouco tempo o rock se estabeleceu como principal gênero musical da população jovem.

Apesar de grande parte de seus artistas serem homens, ao longo dos anos as mulheres começaram a ganhar notoriedade e fama no rock, como Janis Joplin, Stevie Nicks, Cindy Lauper e Courtney Love; e no Brasil, as mais conhecidas da atual geração são Rita Lee, Pitty e Cássia Eller. Mas o que pouco se fala é que a precursora do rock no Brasil foi uma mulher: a paulista Celly Campello.

Vanguardista

O rock das décadas de 1950/1960 tinha um estilo próprio em suas melodias e composições, era o chamado rockabilly, um dos primeiros subgêneros, que nasceu no sul dos Estados Unidos, na primeira metade dos anos 50. Além da música, essa categoria do rock vem acompanhada de uma estética retrô, com mulheres vestidas no estilo pinups, homens de jaqueta de couro e topetes com brilhantina, a icônica lanchonete dos filmes antigos, com garçonetes de patins e taças de milkshakes coloridos, e a ilustre dança rockabilly stroll, a coreografia em par com misturas de boogie woogie.


Celly em 1960, aos 18 anos de idade. | Foto: Arquivo público

Ao olhar fotografias de Celly Campello jovem, a relação com o rockabilly é nítida. Sempre com vestidos rodados, calças no estilo capri – um pouco abaixo dos joelhos –, suéteres, cabelos curtos e bem arrumados, e as estampas de listras e bolinhas são um traço de sua personalidade. Mas não apenas em sua aparência o gênero estava presente. As principais músicas eternizadas em sua voz, como Banho de Lua (1958) e Estúpido Cupido (1959), são faixas que atestam a presença do subgênero em sua obra. Além de ter popularizado a dança twist, uma variação do rockabilly stroll com toques mais abrasileirados.

Estúpido Cupido, álbum de estreia de Celly, gravado em 1959, é considerado por muitos como o primeiro disco de vinil de rock brasileiro. Tendo angariado à Campello fama no primeiro ano de sua divulgação, alcançando o topo das paradas das rádios nacionais no começo da década de 1960, colocando a jovem de 18 anos, que há pouco havia entrado no ramo musical, como uma das principais cantora da época, sendo a artista vanguardista do rock no País.

“Celly foi uma pioneira diva do pop brasileiro. Uma cantora que fez muito sucesso entre o fim dos anos 1950 e o início dos 1960”, conta o jornalista e crítico musical Mauro Ferreira. “A ponto de cantoras então debutantes, como Elis Regina, terem sido induzidas a imitar Celly nos primeiros discos.” Quanto à sua música, Ferreira enfatiza que “era um rock bem pop e ingênuo, não exatamente rebelde, embora pudesse ser visto como tal pela sociedade brasileira da época”.

Uma carreira inteira em poucos anos

Célia Campello Gomes Chacon nasceu em 18 de junho de 1942, em São Paulo (SP), e nos primeiros anos de vida mudou com a família para o interior do estado, na cidade de Taubaté. Filha de Nelson Freire Campello e Idea Benelli Campello, Celly – apelido que virou seu nome artístico –, foi incentivada pelos pais à área artística desde sua infância. Fez aulas de piano, violão e balé, e aos seis anos cantou na Rádio Cacique, de Taubaté, onde também teve seu próprio programa de rádio com apenas 12 anos de idade.

Em pouco tempo, os pais e amigos de Celly notaram que a garota poderia vir a se tornar uma artista famosa – mas não sabiam ainda que a fama viria rápido, e terminaria em um breve tempo. Acompanhada nos primeiros anos de sua carreira por seu irmão, o também cantor Tony Campello, a dupla tocou em diversas rádios e fizeram shows em muitos bailes da época, ganhando fãs e conhecendo grandes nomes artísticos. 


Celly e Tony se apresentam no Cine Castelo. | Foto: Acervo Última Hora

O ano de 1958 foi um dos mais importantes em sua carreira. Com 15 anos, Celly conseguiu, em poucos meses, gravar seu primeiro disco (Handsome Boy) e estrear na televisão, no programa Campeões do Disco, da TV Tupi, que apresentava artistas que estavam na parada de sucesso nas rádios da época.

E no ano seguinte, sua fama alcançou o auge com a gravação de seu disco mais conhecido: Estúpido Cupido.  Lançado no programa do Chacrinha, da Rede Globo, o disco abriu as portas da fama à Celly. Ganhou um programa próprio na Rede Record, o Celly e Tony em Hi-Fi, que apresentava junto de seu irmão, participou de longas-metragens e ainda ganhou prêmios e troféus, inclusive internacionais, recebendo o título de “Rainha do Rock Brasileiro”.

Mas ao mesmo tempo que sua carreira ganhou fama em poucos anos, seu fim também foi tão rápido quanto. Em 1962, aos 20 anos de idade, Celly Campello se casou com o contador José Eduardo Gomes Chacon, se mudando em seguida para a cidade de Campinas, onde tiveram dois filhos, Cristiane e Eduardo. Muitos falam sobre o casamento ter sido o motivo de sua desistência na carreira, mas segundo o cineasta Luiz Alberto Pereira, que dirigiu o filme sobre sua história, “Celly estava cansada da vida artística, queria sossego”.


José Eduardo e Celly no dia do casamento, em 5 de maio de 1962. | Foto: Arquivo público

Celly só retornou à carreira anos mais tarde. No início da década de 1970, ela e seu irmão tocaram no Hollywood Rock, um festival realizado no Rio de Janeiro. E em 1976, com a gravação da telenovela “Estúpido Cupido”, da TV Globo, sua fama voltou à tona, com a inclusão de mais alguns shows em sua agenda. Mas o jornalista Mauro diz que quando Celly “retomou a carreira, ela já tinha sido ultrapassada pelas estrelas da Jovem Guarda, como a cantora Wanderléa”, não tendo tido a fama que a alcançou em seus primeiros anos de atividade.

Um Broto Legal

Em homenagem à Celly Campello e sua trajetória como artista brasileira, o cineasta Luiz Alberto dirigiu, produziu e roteirizou o longa-metragem “Um Broto Legal”, que estreou dois dias antes da comemoração de 80 anos de história da cantora, em 16 de junho. Um drama biográfico ambientado na Taubaté dos anos 1950, o filme acompanha a vida de Celly e seu irmão nos primeiros anos de sua carreira, até conquistar o Brasil.

“Também tenho uma relação emotiva [com Celly] no sentido de ser da mesma cidade dela, Taubaté. E eu via a Celly falando e ouvia seus ecos pela cidade”, conta Luiz, que foi criado no município até o final da adolescência. “Eu era muito pequeno, mas via a efervescência que era tudo o que acontecia em torno da Celly Campello.”


Pôster de divulgação do filme "Um Broto Legal". | Foto: Divulgação

Luiz conta que as pesquisas para a criação do filme, assim como os recursos utilizados em sua produção, tiveram muita elaboração por parte da equipe de criação do longa. “Conversamos com muitas pessoas, inclusive Tony Campelo. Ele tinha objetos da época, prêmios que Celly ganhou e muitas fotos. E ele tem uma memória muito boa, falava exatamente os dias e locais em que os fatos ocorreram”, lembra o diretor.

Para a produção, que contou com a atriz Marianna Alexandre no papel de Celly e Murilo Armacollo como Tony, foram alugados carros de época e figurinos que contrastassem com a ambientação do longa. “Toda a arte do filme foi de época, pois se passa nas décadas de 1950/60. Utilizamos materiais daquele momento, inclusive fizemos uma pesquisa grande para poder fazer tudo certo”, conta Luiz.

O Registro Civil de Celly

No dia 4 de março de 2003, aos 60 anos de idade, Celly Campello faleceu, vítima de um câncer de mama que já vinha tratando há tempos. A cantora estava internada no Hospital Samaritano, na cidade de Campinas, e foi sepultada no dia seguinte no Cemitério Parque Flamboyant, no mesmo município.

Com seu falecimento registrado no 3º Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Campinas, declarado por seu filho Eduardo, podemos verificar em sua certidão de óbito, documento de cunho público acessado pelo site RegistroCivil.org.br, uma plataforma criada e organizada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que Celly nasceu em São Paulo, registrou o casamento em Taubaté e morreu em Campinas, cidade esta que viveu grande parte de sua vida, quando decidiu deixar a carreira artística, mas se o motivo foi o casamento com José Eduardo, ou o alvoroço da profissão como cantora, nunca vamos saber.

Clique aqui e confira a certidão de óbito de Celly Campello na íntegra.

Clique aqui e assista ao trailer de Um Broto Legal.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Arpen/SP

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