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Quarta edição do Conarci Acadêmico destaca inovações, desafios e protagonismo do Registro Civil de Pessoas Naturais
Desta vez em Maceió (AL), a
quarta edição do Conarci Acadêmico marcou o início do Congresso Nacional do
Registro Civil (Conarci 2025). A idealizadora do projeto, Karine Boselli,
vice-presidente da Arpen-Brasil, ao lado de Alberto Gentil de Almeida Pedroso,
juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e mestre em
Processo Civil, e do presidente da Arpen-Brasil, Devanir Garcia, realizou a
abertura oficial do evento. “O projeto é como um filho, com um processo
construído desde o namoro, depois sua gestação e hoje estamos comemorando seu
quarto aniversário. Então viva o Registro Civil e viva a produção acadêmica
realizada pelos registradores”, destacou Karine Boselli.
O encontro, que propôs debates
relevantes sobre as inovações do Registro Civil, os desafios do Direito
Contemporâneo e o papel essencial dessa atividade para a sociedade, teve como
vencedores Lenise Friedrich Faraj (1º lugar), Weider Silva Pinheiro (2º lugar)
e Frank Wendel Chossani (3º lugar).
O primeiro painel trouxe o tema
“A Viabilidade Econômico-Financeira como Princípio Norteador da Delegação
Relativa ao Registro Civil das Pessoas Naturais”. Entre os artigos selecionados
estavam: “A Via Crucis do Registro Civil das Pessoas Naturais – do Martírio ao
Esplendor – Mais que uma Escolha, uma Missão”, de Frank Wendel Chossani,
oficial do RCPN e tabelião de notas de Populina-SP; “O Princípio da Viabilidade
Econômico-Financeira: uma análise à luz da delegação do Registro Civil das
Pessoas Naturais”, de Ana Cristina Duarte Pereira Murai, doutora em Função
Social do Direito e registradora civil; e “A Viabilidade Econômico-Financeira
do Registro Civil das Pessoas Naturais: um princípio essencial para a
cidadania”, de Victoria Ushuaia Passos Escobar, bacharel em Direito. O painel
foi mediado por Alberto Gentil de Almeida Pedroso e João Gusmão,
vice-presidente da Arpen-MA.
Abrindo o debate, Victoria
apresentou um panorama inicial de seu artigo, destacando a importância da
valorização do Registro Civil diante de sua essencialidade para a cidadania. “O
Registro Civil presta serviços indispensáveis à cidadania, mas ainda é pouco
valorizado. Muitos enxergam apenas a burocracia, esquecendo que estamos
garantindo identidade e segurança jurídica. Ao mesmo tempo, a compensação
financeira recebida pelas serventias é baixa e muitas vezes atrasada, o que
dificulta manter equipes qualificadas e investir em tecnologia. É preciso
encarar a viabilidade econômica como princípio essencial para que possamos
continuar cumprindo nossa missão”, afirmou.
Segundo Ana Cristina, é
essencial que a atividade registral seja melhor compreendida pela sociedade.
“Precisamos mostrar a importância do Registro Civil, desmistificar ideias
equivocadas e reforçar seu papel social. Toda a vida de uma pessoa passa pelo cartório,
do nascimento ao óbito, passando por casamentos, divórcios e reconhecimentos de
paternidade. Prestamos um serviço essencial, de fé pública, mas que enfrenta o
desafio da sustentabilidade. Muitas serventias não conseguem equilibrar as
gratuidades com os custos de manutenção, o que ameaça a continuidade de um
trabalho que garante direitos fundamentais. É preciso buscar equilíbrio entre
as políticas públicas e a viabilidade econômica das serventias, fortalecendo o
Registro Civil como instituição essencial à cidadania”, destacou.
O terceiro colocado, o oficial
de Registro Civil Frank Wendel, utilizou uma analogia da via crucis para
refletir sobre os desafios e a missão do Registro Civil. “Não estamos aqui para
falar de religião, mas de fé — a fé pública que a lei nos confere, a fé social
da confiança da população e a fé no futuro, de que dias melhores virão. O
Registro Civil já passou por martírios, mas é também uma missão, sustentada
pelo compromisso de garantir cidadania e pela certeza de que ainda podemos
alcançar o esplendor”, enfatizou.
Por fim, o mediador João Gusmão
destacou a relevância do debate e fez questão de enaltecer os trabalhos
apresentados. “Esse é um tema sensível porque fala de dignidade e cidadania —
não apenas da sociedade e dos usuários, mas também da dignidade do próprio
registrador civil, que enfrenta desafios diários. Nosso dever é distribuir
cidadania, mas também precisamos encontrar caminhos para garantir a valorização
da nossa atividade”, completou.
O segundo painel do dia debateu
o tema “Inteligência Artificial e a Otimização de Procedimentos no Registro
Civil das Pessoas Naturais: Oportunidades e Ferramentas”. O tema foi mediado
por Alberto Gentil e Flavia Pereira Hill, doutora e mestre em Direito. A
vencedora do Conarci Acadêmico, Lenise Friedrich Faraj, titular do cartório de
Palestina de Goiás, apresentou seu artigo: “A evolução da tecnologia da
informação na prevenção de fraudes no registro civil”.
“Apesar da evolução da
tecnologia da informação, ainda convivemos com fraudes graves. O caso de José
Eduardo Franco dos Reis, que viveu por décadas com identidade falsa como
‘Edward Albert’, mostra como até a certidão de nascimento pode ser manipulada.
Esse exemplo evidencia a urgência de aplicarmos ferramentas tecnológicas
modernas no Registro Civil para proteger a cidadania e garantir segurança
jurídica”, disse.
Na sequência, a doutoranda em
Direito Verusca Rosina Migoto apresentou o artigo “Inteligência Artificial:
avanços e desafios do Registro Civil das Pessoas Naturais”, trazendo um
panorama dos benefícios e riscos da tecnologia. “A inteligência artificial tem
potencial para modernizar processos registrais, melhorar a segurança jurídica e
oferecer uma experiência mais eficiente ao cidadão. Mas sua implementação exige
cautela: é preciso garantir supervisão humana constante, qualidade dos dados e
inclusão social, porque a tecnologia deve aproximar as pessoas e não
excluí-las”, destacou.
Dando encerramento ao segundo
painel, o doutor em Ciências Jurídicas Weider Silva Pinheiro apresentou o
artigo “Ferramentas de IA no Atendimento ao Público: O uso de chatbots nos
cartórios de Registro Civil”, destacando como a tecnologia pode melhorar tanto
os fluxos internos quanto o atendimento ao cidadão. “Os chatbots já se tornaram
ferramentas quase indispensáveis no Registro Civil. Eles agilizam a rotina,
oferecem informações com rapidez e reduzem barreiras de acesso. Mas é
fundamental que esse letramento digital seja acompanhado para evitar exclusões.
A tecnologia deve sempre caminhar ao lado da inclusão social”, explicou.
Já o terceiro e último painel do
Conarci Acadêmico abordou o tema “O Registro das Pessoas Naturais como Fonte
Primária de Dados Estatísticos e sua Importância para Medidas e Políticas
Estatais”, mediado por Letícia Franco Maculan Assumpção, oficial de Registro
Civil de Barreiro-MG e diretora do Recivil, e Alberto Gentil.
Iniciando as apresentações, o
pós-graduado em Direito Registral e Notarial Matheus Grandini Pegorer
apresentou seu artigo “Domicílio como Dado, Registro Civil como Censo”,
destacando a relevância do RCPN na produção de estatísticas fundamentais para
políticas públicas. “Não há como pensar em políticas públicas sem falar em
recenseamento. O Registro Civil, ao acompanhar a vida das pessoas, torna-se um
verdadeiro censo contínuo, capaz de orientar o Estado em suas decisões. Assim
como na Antiguidade o recenseamento foi base para organização social e
política, hoje o Registro Civil exerce esse papel essencial na definição de
estratégias para atender melhor a população”, explicou Matheus.
Autora do trabalho “Entre
estatísticas e cidadania: o Registro Civil das Pessoas Naturais como fonte
primária de dados para as Políticas Públicas e Implementação do ODS 16 (Paz,
Justiça e Instituições Eficazes) da Agenda de 2030 da ONU”, a registradora Thais
Coelho Rodrigues destacou: “Talvez esse seja nosso maior desafio e nossa maior
oportunidade de nos consolidarmos como fonte primária de dados para as
políticas públicas do país. Somos a porta de acesso para a cidadania.
Precisamos de fortalecimento e do reconhecimento formal do papel estatístico do
Registro Civil como a fonte principal desses dados, que não conseguiriam com a
mesma eficiência que poderíamos fornecer”, afirmou Thais.
O último trabalho apresentado no
Conarci Acadêmico 2025 foi “Princípios da Análise Econômica do Direito
aplicados ao Registro Civil das Pessoas Naturais: Entre a Eficiência Social e a
Viabilidade Econômico-Financeira da Delegação”, de autoria da registradora
civil do RCPN do 12º Subdistrito Cambuci, Letícia Araújo Ferreira.
Em sua exposição, Letícia
destacou como a análise econômica do direito pode oferecer novas perspectivas
para compreender a função do Registro Civil. “O RCPN é um verdadeiro
repositório de informações e uma fonte segura de dados, mas é preciso ampliar o
olhar além da metodologia clássica de interpretação das normas. A análise
econômica nos permite enxergar o serviço com maior racionalidade, avaliando
escolhas legislativas, potencialidades e utilidades sociais. Isso dá mais
densidade científica à defesa do Registro Civil como instituição essencial para
a cidadania e para a eficiência do Estado”, ressaltou.
A manhã de apresentações foi
finalizada em grande estilo com a premiação dos artigos selecionados. Os
vencedores receberam seus prêmios do co-coordenador do Conarci Acadêmico,
Alberto Gentil. Em seguida, Alberto agradeceu a todos os participantes e encerrou
os trabalhos.
O Conarci Acadêmico 2025
consolidou-se como espaço de reflexão e inovação para o Registro Civil das
Pessoas Naturais. Com recorde de inscritos e temas que vão da viabilidade
econômico-financeira ao uso da inteligência artificial, o evento reafirmou o
protagonismo dos registradores na promoção da cidadania, na segurança jurídica
e na construção de políticas públicas para o país.
Fonte:
Eduardo Carrasco, Assessoria de Comunicação Arpen-BR