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28 de Fevereiro de 2013
Especial - José Geraldo Spínola Guimarães: "O Registro Civil valeu muito a pena"
O Registro Civil do Estado de São Paulo deu adeus, na última quarta-feira (20.02), a um de seus grandes ícones. Após 41 anos de exemplar serviço prestado à comunidade e dedicação integral à atividade registral, José Geraldo Spínola Guimarães, Oficial do 2° Subdistrito de Registro Civil de Barretos, deixou definitivamente a atividade.
Em seu último capítulo foi homenageado pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP) com uma placa que lhe concedeu o título de associado vitalício da entidade. "Deixo a atividade agradecido ao Registro Civil. Me formei como homem em um cartório, sustentei minha família, formei meus filhos e fiz amizades que levarei para o resto da vida. Esta nobre atividade e as pessoas que dela fazem parte estarão para sempre em meu coração", discursou o Oficial no momento de sua homenagem.
Natural da região de Fernandópolis, José Geraldo veio para Campinas ainda menino, aos sete anos de idade. Em 1969 passou a acompanhar o pai, Geraldo Spínola Guimarães, na delegação do 3° Subdistrito de Registro Civil de Campinas, na Vila Industrial, em um tempo onde o "escrivão" não era apenas aquele que registrava nascimentos, casamentos e óbitos. "Naquele tempo o Oficial não era apenas quem registrava no cartório. Meu pai acompanhava diligências, fazia registros para a polícia, era conselheiro das pessoas, enfim, era uma outra realidade", recorda.
Aos 17 anos já trabalhava na unidade, onde um ano depois passaria ao cargo de escrevente autorizado. Com a aposentadoria do pai, a irmã Maria Dalva Spínola Guimarães deu continuidade ao serviço, que viria a ser surpreendentemente interrompido por um inesperado acidente. Coube ao interino José Geraldo suceder a irmã até a realização do 1° Concurso Público do Estado de São Paulo.
"Foi muito difícil deixar o cartório, pois havíamos construído uma vida ali em Campinas, investido em suas instalações, ampliado sua estrutura de pessoal e de atendimento", lembra José Geraldo. "Coube a mim a tarefa de entregar a chave do cartório ao novo titular e foi muito difícil, me recordo ainda hoje daquele dia que estará para sempre marcado na minha vida", relembra o agora aposentado Oficial.
O baque não foi suficiente para demover sua vocação para a profissão. Aprovado no mesmo concurso assumiu a delegação do 2° Subdistrito de Barretos, aonde viria a ficar até a aposentadoria. "Foi um baque grande vir para Barretos, que na época, 1991, era uma cidade muito pequena, com dois cartórios, e o que assumi muito deteriorado", diz José Geraldo. "Já naquela época sofríamos com a distribuição territorial e o tamanho populacional do município", completa, ressaltando dificuldades encontradas até a sua saída da delegação.
"Foi muito mais difícil para ele do que para nós", recorda Carlos Cézar Alves Pereira, que estava no cartório desde 1980 e que agora ocupa interinamente a delegação do 2° Subdistrito. "Sair de Campinas para vir para um lugar muito menor como Barretos não era fácil, mas o José Geraldo não se deu por vencido, trabalhou, implantou melhorias, aceitou sugestões e fomos nos adaptando um ao outro sem nunca termos tido qualquer problema", recorda Carlos, que hoje toca o cartório com mais quatro funcionários.
"Sempre fui uma pessoa que aceitou todo o tipo de críticas, de sugestões, de conselhos que viessem a melhorar o que fazíamos no cartório. Nunca me vi superior a ninguém e acho que terminar uma carreira de 41 anos sem qualquer tipo de senão em minha ficha cartorária, sem uma advertência ou algo semelhante, mostra que o caminho escolhido foi o mais correto", destaca José Geraldo.
A chave do desespero
Quando o 2° Subdistrito de Barretos parecia engrenar, surgia um novo baque para a atividade, com a imposição da gratuidade. "Foi bem difícil, quase que todos os registradores civis sucumbiram", recorda. "Não fossem pessoas como o Guedes (Antônio Guedes Netto), Oscar (Oscar Paes de Almeida Filho), Odélio (Odélio Antônio de Lima) e Mateus (Mateus Brandão Machado), o registro civil em São Paulo tinha acabado", afirma em referência aos líderes que coordenaram a criação do fundo do Registro Civil no Estado de São Paulo.
"Pela segunda vez fui com o coração partido entregar a chave do cartório, desta vez para o juiz Corregedor", diz. "Lembro que pegava uma folha de sulfite e cortava em quatro pedaços para poder fazer a certidão. Não havia como continuar", completa. Segundo José Geraldo o juiz o convenceu a permanecer na serventia, fazendo inclusive doações para manter o cartório em funcionamento.
José Geraldo faz questão de dizer que a gratuidade uniu a classe e fez nascer o espírito que viria a nortear o trabalho da Arpen-SP. "Desta desgraça, na época foi uma desgraça, nasceu os pilares que viriam a dar origem à Arpen-SP. A Associação foi forjada naquela época e trouxe seus ideais deste momento difícil, o que fez com que se transformasse no gigante de hoje. Enquanto os Oficiais de Registro Civil estiverem unidos terão uma força que é impossível de se medir", constata.
A criação da Arpen-SP viria a revelar um José Geraldo ativo e participativo. Assumindo a Diretoria Regional de Barretos se tornou um dos diretores mais atuantes em todo o Estado, visitando delegatários em suas unidades, promovendo cursos e comparecendo à maioria dos eventos de capacitação promovidos pela Associação. "Este é um de meus grandes orgulhos. Como Diretor Regional sempre encontrava respaldo de meus colegas, que me atendiam e me escutavam com atenção, desde os mais antigos até os mais novos e isso me deixava bastante contente", afirma. "Cada um deu sua contribuição para o fortalecimento da classe. Creio que eu também, dentro de minhas limitações, fiz a parte que me cabia", completa.
Aos 61 anos, "jovem e em boa forma", como gosta de dizer, ainda não sabe o que fará como o mais novo aposentado do serviço registral. Dedicar-se à criação de gado, fazer cursos com os filhos, curtir a família, tudo está em seus planos. "Só sei que quando fui entregar a chave do 2° Subdistrito de Barretos ao Carlos estava feliz", diz. "Já não era sem tempo de, pelo menos nesta última vez, fazer a entrega da chave de um cartório com um sorriso no rosto", despediu-se o mais novo associado vitalício da Arpen-SP.
Em seu último capítulo foi homenageado pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP) com uma placa que lhe concedeu o título de associado vitalício da entidade. "Deixo a atividade agradecido ao Registro Civil. Me formei como homem em um cartório, sustentei minha família, formei meus filhos e fiz amizades que levarei para o resto da vida. Esta nobre atividade e as pessoas que dela fazem parte estarão para sempre em meu coração", discursou o Oficial no momento de sua homenagem.
Natural da região de Fernandópolis, José Geraldo veio para Campinas ainda menino, aos sete anos de idade. Em 1969 passou a acompanhar o pai, Geraldo Spínola Guimarães, na delegação do 3° Subdistrito de Registro Civil de Campinas, na Vila Industrial, em um tempo onde o "escrivão" não era apenas aquele que registrava nascimentos, casamentos e óbitos. "Naquele tempo o Oficial não era apenas quem registrava no cartório. Meu pai acompanhava diligências, fazia registros para a polícia, era conselheiro das pessoas, enfim, era uma outra realidade", recorda.
Aos 17 anos já trabalhava na unidade, onde um ano depois passaria ao cargo de escrevente autorizado. Com a aposentadoria do pai, a irmã Maria Dalva Spínola Guimarães deu continuidade ao serviço, que viria a ser surpreendentemente interrompido por um inesperado acidente. Coube ao interino José Geraldo suceder a irmã até a realização do 1° Concurso Público do Estado de São Paulo.
"Foi muito difícil deixar o cartório, pois havíamos construído uma vida ali em Campinas, investido em suas instalações, ampliado sua estrutura de pessoal e de atendimento", lembra José Geraldo. "Coube a mim a tarefa de entregar a chave do cartório ao novo titular e foi muito difícil, me recordo ainda hoje daquele dia que estará para sempre marcado na minha vida", relembra o agora aposentado Oficial.
O baque não foi suficiente para demover sua vocação para a profissão. Aprovado no mesmo concurso assumiu a delegação do 2° Subdistrito de Barretos, aonde viria a ficar até a aposentadoria. "Foi um baque grande vir para Barretos, que na época, 1991, era uma cidade muito pequena, com dois cartórios, e o que assumi muito deteriorado", diz José Geraldo. "Já naquela época sofríamos com a distribuição territorial e o tamanho populacional do município", completa, ressaltando dificuldades encontradas até a sua saída da delegação.
"Foi muito mais difícil para ele do que para nós", recorda Carlos Cézar Alves Pereira, que estava no cartório desde 1980 e que agora ocupa interinamente a delegação do 2° Subdistrito. "Sair de Campinas para vir para um lugar muito menor como Barretos não era fácil, mas o José Geraldo não se deu por vencido, trabalhou, implantou melhorias, aceitou sugestões e fomos nos adaptando um ao outro sem nunca termos tido qualquer problema", recorda Carlos, que hoje toca o cartório com mais quatro funcionários.
"Sempre fui uma pessoa que aceitou todo o tipo de críticas, de sugestões, de conselhos que viessem a melhorar o que fazíamos no cartório. Nunca me vi superior a ninguém e acho que terminar uma carreira de 41 anos sem qualquer tipo de senão em minha ficha cartorária, sem uma advertência ou algo semelhante, mostra que o caminho escolhido foi o mais correto", destaca José Geraldo.
A chave do desespero
Quando o 2° Subdistrito de Barretos parecia engrenar, surgia um novo baque para a atividade, com a imposição da gratuidade. "Foi bem difícil, quase que todos os registradores civis sucumbiram", recorda. "Não fossem pessoas como o Guedes (Antônio Guedes Netto), Oscar (Oscar Paes de Almeida Filho), Odélio (Odélio Antônio de Lima) e Mateus (Mateus Brandão Machado), o registro civil em São Paulo tinha acabado", afirma em referência aos líderes que coordenaram a criação do fundo do Registro Civil no Estado de São Paulo.
"Pela segunda vez fui com o coração partido entregar a chave do cartório, desta vez para o juiz Corregedor", diz. "Lembro que pegava uma folha de sulfite e cortava em quatro pedaços para poder fazer a certidão. Não havia como continuar", completa. Segundo José Geraldo o juiz o convenceu a permanecer na serventia, fazendo inclusive doações para manter o cartório em funcionamento.
José Geraldo faz questão de dizer que a gratuidade uniu a classe e fez nascer o espírito que viria a nortear o trabalho da Arpen-SP. "Desta desgraça, na época foi uma desgraça, nasceu os pilares que viriam a dar origem à Arpen-SP. A Associação foi forjada naquela época e trouxe seus ideais deste momento difícil, o que fez com que se transformasse no gigante de hoje. Enquanto os Oficiais de Registro Civil estiverem unidos terão uma força que é impossível de se medir", constata.
A criação da Arpen-SP viria a revelar um José Geraldo ativo e participativo. Assumindo a Diretoria Regional de Barretos se tornou um dos diretores mais atuantes em todo o Estado, visitando delegatários em suas unidades, promovendo cursos e comparecendo à maioria dos eventos de capacitação promovidos pela Associação. "Este é um de meus grandes orgulhos. Como Diretor Regional sempre encontrava respaldo de meus colegas, que me atendiam e me escutavam com atenção, desde os mais antigos até os mais novos e isso me deixava bastante contente", afirma. "Cada um deu sua contribuição para o fortalecimento da classe. Creio que eu também, dentro de minhas limitações, fiz a parte que me cabia", completa.
Aos 61 anos, "jovem e em boa forma", como gosta de dizer, ainda não sabe o que fará como o mais novo aposentado do serviço registral. Dedicar-se à criação de gado, fazer cursos com os filhos, curtir a família, tudo está em seus planos. "Só sei que quando fui entregar a chave do 2° Subdistrito de Barretos ao Carlos estava feliz", diz. "Já não era sem tempo de, pelo menos nesta última vez, fazer a entrega da chave de um cartório com um sorriso no rosto", despediu-se o mais novo associado vitalício da Arpen-SP.