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14 de Julho de 2005

Trabiju, SP, a cidade dos sem-diploma

Cidade está entre as quase 300 do País onde, oficialmente, ninguém tem formação superior

O diretor aposentado da única escola da pequena Trabiju - a 300 quilômetros de São Paulo - , Maurício Morales, de 64 anos, é um dos poucos moradores que interam um grupo de elite da cidade. Não pelo cargo que ocupou, nem por ser cunhado do prefeito, mas por ter conseguido obter um diploma do ensino superior. Em Trabiju - cidade com cerca de 1.500 habitantes-, pode-se literalmente contar nos dedos os que estudaram tanto quanto Morales.

Em São Paulo, Trabiju se compara apenas a Marapoama, a cerca de 400 quilômetros da capital. As duas aparecem no Censo Demográfico de 2000, do IBGE, como as únicas cidades do Estado onde não há sequer um morador com ensino superior completo, ou, talvez, tão poucos, que tenham ficado de fora da pesquisa feita por amostragem. No Brasil, onde apenas 11% da população chegou a esse nível, há quase 300 municípios em que todos os moradores engrossam a legião dos sem-diploma.

Hoje, fazendo-se as contas são menos de 15 moradores formados que vivem em Trabiju. Morales, um trabijuense formado nos anos 80 em Pedagogia, em Franca, sempre viveu na cidade natal. Foi professor, vice-diretor e, finalmente, diretor da Escola Alfredo Evangelista Nogueira. "Fui talvez o primeiro a me formar e optei por voltar e ocupar a vaga na escola", conta Morales. "A cidade se ressente da falta de pessoas com mais conhecimento geral e mais educação", analisa. "Se tivesse mais diplomados, certamente o desenvolvimento da cidade seria mais acelerado".

O Ministério da Educação (MEC), de olho nessas estatísticas, planeja dar incentivos a universidades privadas que abram unidades em regiões pobres e com maior carência de formados. "Vamos ter de criar formas que permitam que mais pessoas estudem", diz o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Eliezer Pacheco. Na região de Trabiju, há pelo menos duas universidades, uma particular e outra estadual, ambas em Araraquara, a 40 quilômetros de distância.

"Em regiões com baixa densidade econômica, onde a oferta de empregos tende a ser baixa e localizada em áreas que não requerem alta qualificação, investimentos em formação superior tendem a ter baixo retorno", explica Eduardo Haddad, economista da Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP). Isso porque quem se forma acaba indo embora.

É o caso da trabijuense Graziela Aparecida Souza, de 20 anos, que cursa Sistemas de Informação no Centro Universitário de Araraquara (Uniara). "Penso em ir embora assim que me formar. Aqui não há perspectivas", diz.

O resultado disso se traduz na pobreza de Trabiju - sintoma comum às outras cidades onde ninguém ou quase ninguém cumpri 15 anos ou mais de estudo. A cidade vive da cana-de-açúcar, da citricultura e da agropecuária. Uma indústria de ração, uma granja, uma incubadora de frango e a administração municipal oferecem quase todos os empregos.

Com poucos anos de vida independente - até 1996 era distrito de Boa Esperança do Sul -, Trabiju não conta com diplomados nem mesmo no comando. A exemplo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou apenas à 5ª série do fundamental, o prefeito Sílvio Rojes Filho, também não concluiu os estudos. Chegou até a 4ª série. "Se tivesse tido a chance de combinar trabalho e estudo, teria sido melhor", avalia Rojes Filho, em seu segundo mandato.

Logo que assumiu, ele abriu concurso para os cargos da nova administração. Para a maioria das vagas teve de "importar"mão-de-obra. O dentista, os quatro médicos, o farmacêutico, a enfermeira padrão e o engenheiro civil, entre outros, moram em outras cidades. Vão e voltam todos os dias.

A curto prazo, cidades como Trabiju não tem outra opção a não ser investir em vagas de baixa qualificação. Se não é o ideal, é uma das poucas formas de não incluir os sem-diploma nas estatísticas do desemprego.


Fonte: O Estado de São Paulo
Autor: Marcos de Moura e Souza

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