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19 de Fevereiro de 2006
Globo Repórter - Quarto Bloco - Álbum de família
Um momento para guardar na memória. Os retratos do casal podem perder a cor, a nitidez, mas um álbum registra laços que resistiram ao tempo. Dos 37 casamentos realizados na família nos últimos 80 anos, só dois se desfizeram. São três gerações de descendentes de um dos mais antigos casais do Brasil. "Fui eu que o escolhi. Acho que ele também me escolheu", brinca a aposentada Esmeraldina Campos de Oliveira.
O aposentado Sebastião José de Oliveira lembra o momento em que viu dona Esmeraldina pela primeira vez: "Senti que ela servia pra mim e pronto".
Dona Esmeraldina e seu Sebastião casaram-se em 1928, numa fazenda, no interior de Minas Gerais. Na época em que muitos casamentos eram arranjados, eles tiveram o privilégio de se unir por amor. E lá se vão 77 anos juntos.
"Minha mulher esquenta meus pés", diz seu Sebastião. "E o coração, porque estão bem perto um do outro", completa, emocionado.
"Gosto de dormir com ele. Não quero que ele fique doente", diz dona Esmeraldina.
A simplicidade sempre acompanhou o casal, criado na roça. Eles tiveram 13 filhos, dois dos quais já morreram. Até agora, são 40 netos e 43 bisnetos. Seu Sebastião diz que ainda não sabe o nome de todos. "Mas é tudo da família", ressalta ele, que se considera rico "de gente e de satisfação".
Se o casamento dá certo, um dos resultados mais prováveis é a casa cheia! É o que vem alimentando ano após ano a vida de dona Esmeraldina e seu Sebastião. São os momentos de maior alegria. Ela, com 95 anos, e ele, com 99, fazem questão de acompanhar as festas da família. Dona Esmeraldina não dispensa o vinho.
"Ela briga pelo vinho, adora", conta uma das filhas.
"Eu escondo debaixo da cama, bem tampadinho", revela dona Esmeraldina.
Uma convivência divertida, que mantém a união da família. A casa dos bisavós é o ponto de encontro. E eles, o motivo de reuniões freqüentes.
"A gente sente o carinho de um com o outro", comenta a filha Selma Oliveira.
"A vovó tem ciúme do vovô até hoje, ele não pode olhar para ninguém. A mãozinha dela está sempre em cima da dele", conta a bisneta Milena Oliveira.
"Eu acho uma benção porque hoje em dia é uma raridade isso acontecer. É um exemplo para todo mundo", ressalta a neta Ione de Oliveira.
"A família é muito religiosa e isso contribui também", diz a filha Rita de Oliveira.
Católica fervorosa, a família canta e reza nos encontros. Dona Esmeraldina, devota de Nossa Senhora Aparecida, se emociona. Alegre e sensível, ela sempre gostou de poesia e até hoje tem uma memória surpreendente para recitar os versos: "Nós dois boiamos como dois cisnes alvejantes de espuma. Mas um dia um cisne morrerá por certo. E quando chegar este momento incerto, que a água do lago talvez se tisne. Que o cisne vivo e cheio de saudade nunca mais cante, nem sozinho nade. E nem nade mais nunca ao lado de outro cisne".
Uma declaração de amor, único e eterno. E, como o cisne do soneto, dona Esmeraldina teme um dia se ver só. "Eu tenho muito medo de que ele morra primeiro. Quero morrer primeiro porque é melhor para mim", diz ela.
Mas seu Sebastião é um cisne ainda cheio de planos de navegação. E, pelo jeito, está disposto a manter o curso. "No dia 6 de agosto eu completo 100 anos. Não sei se vou até lá, mas vou procurar chegar. Aí, você pode vir aqui porque eu vou rebentar foguetes na rua", planeja.
Animação para isso é que não falta. O casal acompanha a família no forró. Dona Esmeraldina, então, é uma dançarina disputada. Mas o que eles mais gostam mesmo é de ficar assistindo. Na família, já tem quem siga os passos dos avós: são os bisnetos Ana Paula e Mateus. Eles estão namorando. São primos, como dona Esmeraldina e seu Sebastião - os pais deles eram irmãos. Se os jovens bisnetos vão se casar, só o tempo dirá. Mas eles não escondem que, hoje, sonham com isso.
"Todo mundo sonha. A maioria sonha em ter um casamento e uma família. E tê-los como exemplo é o principal. A gente tem orgulho disso", diz Ana Paula.
"Eu acho que nossos jovens talvez estejam à procura de alguma coisa da qual os nossos avós usufruíram, que é uma certa delicadeza, um certo respeito nas relações conjugais. E, talvez, essa animação toda no casamento hoje seja também uma forma de nostalgia daquilo que os nossos avós viveram com tanta tranqüilidade, do que nós estivemos à procura durante um certo tempo e que nossos filhos hoje queiram reencontrar", conclui a historiadora Mary del Priore.
O aposentado Sebastião José de Oliveira lembra o momento em que viu dona Esmeraldina pela primeira vez: "Senti que ela servia pra mim e pronto".
Dona Esmeraldina e seu Sebastião casaram-se em 1928, numa fazenda, no interior de Minas Gerais. Na época em que muitos casamentos eram arranjados, eles tiveram o privilégio de se unir por amor. E lá se vão 77 anos juntos.
"Minha mulher esquenta meus pés", diz seu Sebastião. "E o coração, porque estão bem perto um do outro", completa, emocionado.
"Gosto de dormir com ele. Não quero que ele fique doente", diz dona Esmeraldina.
A simplicidade sempre acompanhou o casal, criado na roça. Eles tiveram 13 filhos, dois dos quais já morreram. Até agora, são 40 netos e 43 bisnetos. Seu Sebastião diz que ainda não sabe o nome de todos. "Mas é tudo da família", ressalta ele, que se considera rico "de gente e de satisfação".
Se o casamento dá certo, um dos resultados mais prováveis é a casa cheia! É o que vem alimentando ano após ano a vida de dona Esmeraldina e seu Sebastião. São os momentos de maior alegria. Ela, com 95 anos, e ele, com 99, fazem questão de acompanhar as festas da família. Dona Esmeraldina não dispensa o vinho.
"Ela briga pelo vinho, adora", conta uma das filhas.
"Eu escondo debaixo da cama, bem tampadinho", revela dona Esmeraldina.
Uma convivência divertida, que mantém a união da família. A casa dos bisavós é o ponto de encontro. E eles, o motivo de reuniões freqüentes.
"A gente sente o carinho de um com o outro", comenta a filha Selma Oliveira.
"A vovó tem ciúme do vovô até hoje, ele não pode olhar para ninguém. A mãozinha dela está sempre em cima da dele", conta a bisneta Milena Oliveira.
"Eu acho uma benção porque hoje em dia é uma raridade isso acontecer. É um exemplo para todo mundo", ressalta a neta Ione de Oliveira.
"A família é muito religiosa e isso contribui também", diz a filha Rita de Oliveira.
Católica fervorosa, a família canta e reza nos encontros. Dona Esmeraldina, devota de Nossa Senhora Aparecida, se emociona. Alegre e sensível, ela sempre gostou de poesia e até hoje tem uma memória surpreendente para recitar os versos: "Nós dois boiamos como dois cisnes alvejantes de espuma. Mas um dia um cisne morrerá por certo. E quando chegar este momento incerto, que a água do lago talvez se tisne. Que o cisne vivo e cheio de saudade nunca mais cante, nem sozinho nade. E nem nade mais nunca ao lado de outro cisne".
Uma declaração de amor, único e eterno. E, como o cisne do soneto, dona Esmeraldina teme um dia se ver só. "Eu tenho muito medo de que ele morra primeiro. Quero morrer primeiro porque é melhor para mim", diz ela.
Mas seu Sebastião é um cisne ainda cheio de planos de navegação. E, pelo jeito, está disposto a manter o curso. "No dia 6 de agosto eu completo 100 anos. Não sei se vou até lá, mas vou procurar chegar. Aí, você pode vir aqui porque eu vou rebentar foguetes na rua", planeja.
Animação para isso é que não falta. O casal acompanha a família no forró. Dona Esmeraldina, então, é uma dançarina disputada. Mas o que eles mais gostam mesmo é de ficar assistindo. Na família, já tem quem siga os passos dos avós: são os bisnetos Ana Paula e Mateus. Eles estão namorando. São primos, como dona Esmeraldina e seu Sebastião - os pais deles eram irmãos. Se os jovens bisnetos vão se casar, só o tempo dirá. Mas eles não escondem que, hoje, sonham com isso.
"Todo mundo sonha. A maioria sonha em ter um casamento e uma família. E tê-los como exemplo é o principal. A gente tem orgulho disso", diz Ana Paula.
"Eu acho que nossos jovens talvez estejam à procura de alguma coisa da qual os nossos avós usufruíram, que é uma certa delicadeza, um certo respeito nas relações conjugais. E, talvez, essa animação toda no casamento hoje seja também uma forma de nostalgia daquilo que os nossos avós viveram com tanta tranqüilidade, do que nós estivemos à procura durante um certo tempo e que nossos filhos hoje queiram reencontrar", conclui a historiadora Mary del Priore.