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25 de Abril de 2006

Com separação de investimentos

As mulheres são mais conservadoras. Os homens, em geral, têm perfil arrojado. Elas gostam de ir ao shopping. Eles preferem comprar produtos eletrônicos. As diferenças dificultam a união do orçamento e geram polêmica entre os casais. Há os que defendem a separação total das finanças. Buscam independência financeira. Além disso, querem manter a individualidade, mesmo dividindo as despesas da casa. Na ponta oposta, há os casais que, antes de oficializar a união, já dividem a mesma conta corrente e aplicam em conjunto. Além de considerarem a estratégia mais estimulante, querem dividir as mesmas responsabilidades e também os sacrifícios. A verdade é que não há regras.

Segundo especialistas, somente muito diálogo e planejamento evitam as tradicionais discussões em torno do destino dos recursos e da quantia a ser poupada mensalmente. Ceder também é um ponto importante. É a palavra-chave para minimizar diferenças, com investimentos unidos ou não.

Casados há quase dois anos, os engenheiros Camila e Augusto César das Neves Henriques investem seus recursos separadamente, apesar de terem uma planilha de orçamento familiar única. Investimentos separados garantem ao casal individualidade na hora de gastar. "Pensamos em abrir uma conta conjunta e unir os recursos. No entanto seria mais uma conta e mais gastos. Desistimos", explica Camila.

Por coincidência, os dois tinham o mesmo tipo de aplicação. Mas hoje, qualquer mudança precisa ser discutida. Os investimentos são separados, mas as decisões são tomadas em conjunto. "Criamos uma planilha única, na qual verificamos os gastos e acompanhamos as aplicações. Estipulamos uma meta similar para cada um poupar", conta Camila. A engenheira diz que o casal não briga por causa de contas. "Não cobramos quem gastou mais ou menos, contanto que a meta seja cumprida". A preocupação com a individualidade e com a independência financeira fez o casal optar por investir separadamente. No entanto, Camila e Augusto não descartam a possibilidade de unir o capital. "A nossa primeira experiência será um cartão de crédito em conjunto. Vamos analisar se a individualidade de cada um será ferida e como reagiremos ao saber com o que cada um gastou. Estamos indo devagar. Se tudo der certo avaliaremos novamente a possibilidade de investir em conjunto. Já que um volume maior de capital gera mais rendimento e permite maior diversificação", explica. Segundo Victor Zaremba, consultor financeiro, diferenças de perfil, objetivos e conceitos variados de educação financeira são alguns dos pontos que podem virar um problema na vida do casal. "É preciso fazer um planejamento comum e traçar os objetivos para conseguir manter a união. Este é um processo muito maior do que a decisão pela aplicação mais adequada. Envolve o bem estar do casal e as opções e vida de cada um", explica, referindo-se ao equilíbrio entre a garantia do futuro financeiro e a necessidade de desfrutar, no curto prazo, dos benefícios trazidos pelo trabalho. casal enfrenta o desafio de saber quanto cada um investe Verônica Ferreira Lima e Fábio da Silva Santana também fazem suas aplicações à parte. Noivos há um ano e sete meses, a administradora de empresas e o designer afirmam que esta foi uma decisão difícil. "Embora desejemos que o relacionamento seja para sempre, muitas vezes não é assim que acontece, e aí, como seria para dividirmos?", questiona. Segundo a administradora esta é uma forma mais simples de aplicar, já que cada um tem o controle do seu dinheiro. No entanto, Verônica explica que Fábio sabe quanto ela tem em aplicação e vice-versa. "Além disso, sabemos quanto cada um deposita nas aplicações no início no mês", completa.
Até mesmo o investimento destinado para o casamento é feito separadamente. "Além de serem em contas separadas optamos também por fazer em bancos diferentes". Depois do casamento, Verônica afirma que as aplicações serão feitas em conjunto, porém, o casal manterá contas separadas. "A conta conjunta tira a liberdade de cada um. Nós dois trabalhamos desde cedo e nos acostumamos a ter nossa independência financeira. Talvez, ao manter uma conta conjunta, nos privaríamos disso", acredita.

Até um mês atrás Simoni Scapini Sobczak e o marido, o engenheiro Rafael Costa dos Reis, mantinham os investimentos separados. Hoje, casados há três semanas, o casal pretende manter uma única conta. "Optamos pela unificação para ter melhor controle de nossos gastos. Nossas rendas se complementam, assim evitaremos excessos de transferências entre bancos a fim de cobrir saldos negativos", explica Simoni. Ela acredita que ao somar os ganhos do casal, o retorno será maior. "Não temos a vaidade de manter contas separadas e a nossa expectativa para o casamento é a mais positiva possível", diz. Para driblar os possíveis problemas e discussões que possam surgir em relação aos gastos, Simoni e Rafael estabeleceram uma meta de poupança mensal e incluíram um valor para gastos esporádicos na despesa mensal fixa. "Economizamos cerca de 20% do nosso orçamento. Os extras sempre vão existir. Sempre temos no que gastar! Por isso já reservamos um pouco para isto. São festas, aniversários, reformulação de guarda-roupa, e por aí vai", completa. Nelson Rocha e Ana Cecília Perez estão juntos há quase três anos. Há um ano, o casal começou a aplicar para financiar o casamento. Ana Cecília é quem gerencia as aplicações do casal, mas todas as decisões são tomadas em conjunto. "Sempre conversamos para saber onde aplicaremos. Quando um dos dois precisa resgatar por algum motivo, o tema também posto em discussão", explica Nelson. Segundo ele, o fundamental para que aplicações em conjunto dêem é confiança.
Zaremba discorda do casal. Para ele, é prematuro noivos e namorados dividirem a vida financeira antes mesmo de concretizar a união. "Há 50 anos, a separação de um casal era muito difícil, ao contrário do que acontece hoje em dia. Quem ainda namora deve se preocupar em formar poupança para si mesmo e investir no próprio futuro", afirma. O consultor explica que não há regras. "É preciso fazer um planejamento conjunto e traçar os objetivos, visando o bem estar do casal a curto e longo prazos, mas não há como dizer o que é certo ou é errado", completa.

José Costa Gonçalves, diretor da corretora Indusval, lembra que a maioria dos casais optam pela aplicação em conjunto. "Algumas pessoas casadas com regime de separação total de bens preferem separar todas as ordens de compra e venda, mas o investimento conjunto é mais comum", afirma. Na corretora, o casal pode cadastrar-se em conjunto. Um como titular e outro como co-titular. Na ficha cadastral também é possível autorizar o parceiro a dar ordens de negociação. "Para sacar é mais complicado. Somente com procuração passada em cartório", diz.

aspectos jurídicos Poupar individualmente e evitar até as contas conjuntas são as estratégias mais usadas pelos casais que buscam manter a dependência financeira e fugir de problemas em uma possível separação. No entanto, de acordo com o novo Código Civil, estas precauções podem ser ineficientes. O advogado Marcelo Leonardi, da Leonardi Advocacia, lembra que a configuração da união estável dá ao casal os mesmos direitos e deveres da união oficial com regime parcial de bens. Existem vários fatores que ajudam a configurar a união estável, como tempo de convivência, co-habitação e filhos em comum. Não há regras rígidas, como prazo pré-determinado de relacionamento. Tudo é analisado. O principal para configurar a união estável é manter uma convivência semelhante a dos casais que oficializaram o casamento afirma Leonardi. Em caso de separação, o advogado lembra que as duas partes têm direitos iguais sobre todo o patrimônio acumulado desde o início da união, até mesmo de recursos aplicados em contas individuais. Na comunhão total de bens, as duas partes têm direito sobre todo o patrimônio do parceiro, inclusive bens adquiridos antes do casamento. Já na comunhão parcial, regime padrão e também adotado quando o casal não especifica o tipo de união, o parceiro tem direito a 50% de tudo que foi adquirido durante o casamento. Leonardi aconselha aos casais que vivem juntos e que não oficializaram a união a manter uma conta-conjunta. Isso faz com que os dois tenham como movimentar os recursos. No caso de contas separadas, fica um pouco mais complicado. Uma parte sempre alega que poupou sozinha ou que é responsável por uma parcela maior do patrimônio, o que não conta aos olhos da lei. No processo de pré-separação, muitos começam a gastar e comprar bens no próprio nome para garantir uma parcela maior, o que também não adianta. Se uma das partes comprou um carro novo, o parceiro terá direito ao valor equivalente de 50% do bem explica Leonardi. Unidos somente pelo objetivo comum Aplicações em conjunto podem gerar brigas entre casais. Tudo deve ser discutido, conversado e avaliado. É preciso que os dois tenham os mesmos conceitos de educação financeira e saibam poupar, para que não haja sobrecarga para nenhum dos lados. "Dinheiro é motivo de briga, por isso acho melhor não misturar, nem depois do casamento", diz a tradutora Luciana Aché. No entanto, Luciana pondera a possibilidade de uma aplicação em conjunto se o objetivo futuro for comum. Se o casal quiser formar uma poupança para financiar a escola do filho, para comprar um carro, ou para fazer uma viagem, é diferente. Os dois depositariam a mesma quantia e teriam o mesmo objetivo. Fora isso, cada um deve administrar o seu capital afirma. Luciana namora o engenheiro Paulo Pires (os dois na foto) há dois anos. Ao pensar no futuro, a tradutora acredita que as contas de um casal devem ser divididas de acordo com a possibilidade de cada parte. O maior problema, segundo profissionais que lidam com terapia de casais, é quando começa a existir uma competição entre ambos, o que pode provocar (ou acelerar) a separação. É muito importante que o casal saiba de seus limites e entenda o que cada um tem de dificuldade, sem listar os defeitos do cônjuge.

Fonte: Jornal do Commércio- RJ

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