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31 de Agosto de 2007

A certificação digital no Brasil

Em 2001, o governo brasileiro iniciou estudos para regulamentar o uso de certificados digitais no país, de modo que as transações online entre os vários órgãos públicos e seus fornecedores pudessem ter valor legal, permitindo maior agilidade no processo de compras e a diminuição de custos com uso, gerenciamento e armazenamento de documentos oficiais sigilosos ou não. A partir da Medida Provisória 2.200-2, de 24 de outubro de 2001, foi criada a ICP-Gov, que mais tarde expandiu-se dos órgãos públicos para a iniciativa privada e transformou-se na ICP-Brasil, a atual estrutura hierárquica de autoridades certificadoras ligadas ao governo brasileiro. Somente as transações realizadas com certificados emitidos por autoridades credenciadas na ICP-Brasil têm validade jurídica reconhecida no país.

Hoje, bancos utilizam a certificação digital no Sistema de Pagamentos Brasileiro, principalmente nas transações entre eles. Instituições autorizadas a operar no mercado cambial podem usar a assinatura digital nos contratos de câmbio. No Judiciário, há processos totalmente eletrônicos, com advogados e juízes usando o certificado digital e-Doc em todas as etapas. Universidades controlam os bolsistas do ProUni com certificado digital. O resultado disso, segundo usuários, é ganho de tempo, economia e segurança. Apenas alguns países utilizam certificados digitais com os mesmos propósitos do Brasil.

"Na maioria dos países, os certificados não seguem um protocolo único de segurança", conta Viviane Regina Lemos Bertol, coordenadora geral de normalização e pesquisa do ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), autarquia federal vinculada à Casa Civil da Presidência da República. "Há dificuldades inter-relacionais e em muitos casos o certificado não tem valor legal". Segundo Bertol, o Brasil se baseou em países com uma estrutura única de certificação, em que o governo tem o controle de toda a cadeia de regulamentação para que a certificação funcione corretamente.

Uma das principais características da ICP-Brasil é sua estrutura hierárquica. No topo da estrutura encontra-se a Autoridade Certificadora Raiz (AC Raiz) e, abaixo dela, as diversas entidades (ACs de primeiro e segudo nível e Autoridades de Registro). Na ICP-Brasil, a AC Raiz é o IT, que é responsável pelo credenciamento dos demais participantes da cadeia certificadora, pela emissão dos pares de chaves e pela supervisão de todos os processos que envolvem a certificação.

Para fazer parte da ICP-Brasil, a entidade passa por um processo de credenciamento em que são analisadas sua capacidade jurídica, econômico-financeira, fiscal e técnica. Ela também deve contratar um seguro de responsabilidade civil e realizar auditorias prévias e anuais. Todo esse cuidado visa a garantir a segurança do processo - da identificação dos titulares até a emissão dos certificados. Para ter seu certificado na ICP-Brasil, a Autoridade Certificadora paga ao ITI cerca de R$ 500 mil por ano.

Atualmente, a ICP Brasil tem credenciadas oito Autoridades Certificadoras de primeiro nível (Presidência da República, Secretaria da Receita Federal, Serpro, Caixa Econômica Federal, AC Jus, Certisign, Imesp e Serasa), 20 ACs de segundo nível e mais de 800 Autoridades de Registro (AR). Estão em fase de credenciamento duas ACs de segundo nível e quatro ARs. As Autoridades de Registro são a presença física da certificação digital no Brasil. Elas são as responsáveis por autenticar o titular do certificado. Quando alguém pede um certificado digital, deve comparecer a uma Autoridade de Registro para que esse certificado seja validado antes de ser usado. A validação requer a presença do titular no posto da AR com seus documentos e o testemunho de dois agentes de registro - não importa do tipo de certificado desejado.

Certificados da Receita Federal

O e-CPF e o e-CNPJ são os certificados digitais que pessoas físicas e jurídicas podem usar para acessar todos os serviços online que envolvem sigilo fiscal no Brasil e que estão disponíveis no e-CAC, Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte. Eles foram criados em 2002 pela Secretaria da Receita Federal para identificar o contribuinte brasileiro em transações via Internet. Com eles é possível obter cópia de declarações e de pagamentos, realizar retificação de pagamentos, negociar parcelamento dívidas fiscais, pesquisar a situação fiscal, realizar transações relativas ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e alterar dados cadastrais.

Segundo Donizetti Victor Rodrigues, coordenador de infra-estrutura tecnológica e segurança da informação da Secretaria da Receita Federal, já foram emitidos, desde 2002, mais de 300 mil e-CNPJ e e-CPF. O número vem aumentando à medida que a Receita disponibiliza mais serviços no e-CAC. Em 2005, quando poucos serviços estavam online, os acessos ao site da Receita com certificado digital chegaram a 851 mil. Em 2006, quando mais serviços estavam disponíveis, o número de acessos subiu para 17 milhões - mesma quantidade registrada nos sete primeiros meses de 2007.

A popularidade desses certificados, segundo Rodrigues, se deve ao tempo que o contribuinte economiza para obter informações junto à Receita. "Antes, para retificar uma declaração de impostos ou para obter uma cópia da declaração, por exemplo, levava-se dias. A pessoa tinha de comparecer a um posto da Receita, entrar com o pedido, e aguardar uma resposta. Agora é possível fazer tudo instantaneamente no site, usando o certificado digital", diz ele.

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