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LGPD nos Cartórios: ON-RCPN reúne em Live especialistas para alinhar governança, publicidade registral e evidências de conformidade
À luz
dos Provimentos do CNJ, Marcelo Pereira, Bruno Bioni e Monete Hipólito Serra
alinham fundamentos e prática da LGPD no Registro Civil – modulação da
publicidade, evidências de conformidade e o LGPD Monitor como apoio à
governança.
O Operador
Nacional do Registro Civil de Pessoas Naturais (ON-RCPN) realizou, nesta
quinta-feira (16.10), uma Live Especial dedicada à aplicação da Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD) na atividade extrajudicial, com transmissão pelo seu
canal oficial no YouTube. O encontro reuniu o encarregado de dados do ON-RCPN,
Marcelo Pereira, o pesquisador e consultor Bruno Bioni e a registradora e
ex-presidente da Associação dos Registradores Civis de Pessoas Naturais de São
Paulo (Arpen/SP), Monete Hipólito Serra, em um debate que tratou sobre os
fundamentos normativos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e rotinas de
balcão, com o objetivo de consolidar um roteiro mínimo de implementação para
serventias de diferentes portes.
Logo na
abertura, Marcelo Pereira contextualizou o recorte proposto ao público de
oficiais, equipes administrativas e de Tecnologia da Informação. “A nossa
tarefa é traduzir o que dizem a LGPD, o CNJ e as Corregedorias em procedimentos
claros e auditáveis, para que cada unidade saiba por onde começar e como
documentar suas decisões.” Ao longo da conversa, reforçou a premissa de que a
adequação não se resume à compra de ferramentas ou à guarda de modelos prontos,
mas à construção de trilhas de evidência proporcionais à realidade de cada
Cartório. “O objetivo é tornar o balcão auditável sem interromper o serviço”,
afirmou.
Na
exposição sobre o marco normativo, Bruno Bioni pontuou a convergência entre os
princípios da LGPD e a lógica registral. “Finalidade, necessidade e minimização
já dialogam com a tradição da Lei 6.015. Os Provimentos do CNJ – a exemplo do
134/2022 e do 149/2023 – harmonizam publicidade registral e proteção de dados,
e deixam claro o papel do delegatário como controlador, com deveres de
governança”, disse. Para o consultor, a maturidade passa por três frentes:
transparência e canais do titular, segurança da informação com avaliação de
risco e resposta a incidentes, e accountability — a documentação das escolhas
feitas no curso da atividade. “Dado público não é dado sem proteção. A Emenda
Constitucional 115 elevou a proteção de dados a direito fundamental, o que
afasta a ideia de uso irrestrito de informações apenas por estarem acessíveis”,
sintetizou.
A
perspectiva do balcão apareceu nas intervenções de Monete Hipólito Serra, que
trouxe exemplos práticos de modulação da publicidade. “O edital de proclamas
ilustra bem a lógica de finalidade. Se o objetivo é convocar impedimentos, não
faz sentido exibir dados excessivos, como endereço completo ou CPF, quando isso
não é necessário para a finalidade do ato”, explicou. A registradora também
apontou situações recorrentes que exigem postura técnica das serventias, como
pedidos massivos de informações desvinculados de obrigação legal ou judicial.
“Negar expedições em lote sem amparo normativo é cumprir a LGPD e proteger o
acervo”, afirmou.
O painel
percorreu ainda dilemas operacionais comuns. Bioni destacou enunciados que
desincentivam a criação de grandes repositórios paralelos nas correições, por
aumentarem a superfície de risco e criarem ponto único de falha. “A diretriz é
descentralizar com trilhas de auditoria e controles de acesso. Em incidentes, o
que pesa é a análise de risco ao titular e a boa-fé documentada de quem adotou
medidas proporcionais”, disse. Na mesma linha, Monete trouxe o recorte do
cotidiano. “Incidente não é só ataque hacker. É também acesso indevido,
divulgação intra-equipe do que não precisa circular ou falhas simples de
manuseio. Controle de perfis e revisão de rotinas fazem diferença”, afirmou.
No bloco
de perguntas, uma dúvida tratou da presença do CPF nas certidões. A resposta
combinou a visão jurídica e a experiência do balcão. “O CPF, como principal
identificador, reduz homonímia e dá precisão à identificação do titular,
dialogando inclusive com a Carteira de Identidade Nacional”, observou Bioni.
“Vincular o CPF ao Registro Civil fortalece a segurança social, porque o número
acompanha os eventos vitais e dificulta fraudes”, completou Monete.
Para
apoiar diagnósticos e planos de evolução, o ON-RCPN apresentou o LGPD Monitor,
ferramenta gratuita de autoavaliação. Segundo Marcelo Pereira, trata-se de um
questionário objetivo que mensura a maturidade da serventia e orienta a
priorização de ações. “É um ponto de partida para enxergar onde a unidade está,
planejar melhorias e registrar evidências. O acesso é feito pelo Portal do
Registro Civil, por meio da IdRC”, explicou. A proposta é padronizar um
vocabulário comum de conformidade, evitando improvisos e concentrando esforços
naquilo que efetivamente muda o risco.
A
apresentação também abordou a proporcionalidade por porte e a necessidade de
evitar “kits” complexos que não se sustentam na rotina. Para Monete, o caminho
é pragmático. “Melhor um procedimento simples, aderente e revisável do que um
manual sofisticado que ninguém cumpre. Inventário de dados, registro de
tratamento, política de controle de acesso e plano de resposta a incidentes já
elevam a qualidade do serviço”, pontuou. Bioni concordou e reforçou que a
documentação consistente é, ao mesmo tempo, requisito de governança e
instrumento de defesa em fiscalizações. “Em casos semelhantes, quem demonstrou
diligência e medidas proporcionais recebeu tratamento diferente de quem não
avaliou riscos nem guardou evidências”.
No
encerramento da Live, Marcelo Pereira retomou a ideia guia do encontro e o
papel do Operador como articulador nacional. “A publicidade registral é
compatível com a proteção de dados quando guiada por finalidade e adequação. O
que se espera é coerência técnica, padronização possível e um ciclo contínuo de
melhoria. O ON-RCPN segue à disposição para apoiar as serventias nesse
percurso”, disse, informando que a gravação da apresentação estará disponível
no canal do Operador.
A
transmissão consolidou um roteiro prático, de interpretar os Provimentos do CNJ
à luz do serviço, modular a exposição de dados segundo a finalidade, estruturar
controles e perfis de acesso, registrar decisões e incidentes e utilizar
ferramentas institucionais para medir progresso. Ao trazer o balanço entre
norma e prática, o Operador reforça a convergência entre a missão pública do
Registro Civil e a proteção de dados como pilar de confiança no atendimento ao
cidadão.
A Live está disponível no canal do ON-RCPN no Youtube.
Fonte: ON-RCPN