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Metrópoles: Quase 50 mil brasileiros lutam na Justiça para ter o pai na certidão
Casos
ocorrem após homens não quererem se submeter a DNA ou, ainda, quando, realizado
o teste positivo, se recusa ao reconhecimento
Marcello
Casal Jr/Agência BrasilO que significa ter o nome do pai na certidão de
nascimento? Para muitos, é a afirmação de uma história, de uma identidade, de
uma origem. Mas, para quase 50 mil pessoas que recorreram aos tribunais
brasileiros em 2025, porém, essa afirmação se transformou em uma batalha
judicial — um confronto para garantir o reconhecimento paterno que lhes foi
negado.
Dados
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que, neste domingo (10/8), Dia dos Pais, muitos brasileiros e brasileiras não terão motivos para celebrar.
Entre as razões, está a recusa ou a dúvida do pai em reconhecer o vínculo
biológico.
Entenda
- Número
considera a recusa do pai em reconhecer o vínculo biológico.
- Processos
ocorrem após a recusa do pai em aceitar a averiguação da paternidade. é
uma prévia para a solicitação do pedido de paternidade, já como processo.
- Desde
2020, já são 482.345 ações que tramitam ou tramitaram nos tribunais do
país sobre o tema.
Somente
no primeiro semestre deste ano, 48.241 ações pedindo investigação de
paternidade foram protocoladas em todos os tribunais do país, segundo a
plataforma do CNJ. O volume equivale a uma média de 266 processos por dia —
ou 11 por hora.
O
procedimento é adotado quando há ausência de registro paterno na certidão de
nascimento. Na maioria dos casos, é movido pelas mães ou pelos próprios filhos,
já adultos, em busca não apenas de direitos como pensão alimentícia e herança,
mas também de reconhecimento e pertencimento.
Os
pedidos judiciais, cada vez mais comuns, evidenciam que a paternidade, muitas
vezes, ainda precisa ser imposta judicialmente diante da recusa do suposto pai
em reconhecer voluntariamente. E não se trata de um problema recente: desde
2020, já são 482.345 ações que tramitam ou tramitaram nos tribunais do país
sobre o tema.
Direito
fundamental
Para
a advogada Tatyanna Costa Zanlorenci, especialista em direito de família, o
reconhecimento da paternidade é mais do que uma formalidade: é um direito
fundamental. Ela cita que a filiação assegura não apenas laços afetivos, mas
também direitos civis como herança, benefícios previdenciários, uso do
sobrenome paterno, acesso à história familiar e pensão alimentícia.
“Isso
a gente tem que ter bem em mente quando fala sobre essas ações de
parentalidade, de paternidade, lembrando que a paternidade pode ser exercida de
forma biológica ou socioafetiva. Cada vez mais o ordenamento jurídico está
caminhando para se adequar às transformações que acontecem na nossa sociedade”,
diz a especialista.
A
advogada lembra que, mesmo diante da recusa ou ausência do suposto pai, a lei
garante meios para assegurar o vínculo, como a realização de exame de DNA com
parentes próximos — possibilidade prevista na Lei nº 14.138/2021. “O
ordenamento jurídico tem avançado para se adequar às mudanças da sociedade,
reconhecendo que o afeto também constrói família e merece a mesma proteção da
filiação biológica”, diz.
Segundo
ela, a importância desse reconhecimento vai além do aspecto jurídico. “Saber de
onde veio e ter esse laço reconhecido é fundamental para a identidade e a
dignidade da pessoa”, afirma Tatyanna.
Já
o advogado Lucas Menezes, especialista em direito de família, lembra que o
Congresso Nacional hoje pretende elaborar um projeto que visa tornar o
procedimento menos burocrático.
“Pela
proposta, se a mãe indicar o suposto pai, ele deverá registrar o filho ou
realizar exame de DNA para comprovar que não é o genitor. Caso se recuse, seu
nome será incluído no registro, e caberá a ele ir à Justiça para provar o
contrário”, detalha.
Para
o especialista, mudanças no procedimento de investigação de paternidade têm
como objetivo equilibrar responsabilidades e acelerar os resultados. “Essa
inversão da lógica busca garantir mais efetividade ao reconhecimento da
paternidade e corrigir um desequilíbrio histórico: sempre foi a mãe quem arcou
com os prejuízos da ausência paterna”, explica.
Até
junho deste ano, as ações de reconhecimento da paternidade somaram 29.228
casos. É um procedimento prévio, administrativo, consensual e sem custos, que
tem o objetivo de produzir prova de paternidade de forma simples e rápida — sem
a necessidade de judicialização.
Pais
ausentes
Dados
do Portal da Transparência do Registro Civil, na seção Pais Ausentes, mostram
que, desde janeiro deste ano, nasceram 1.508.063 pessoas no Brasil. Dessas,
64.776 não têm o nome do pai na certidão — o equivalente a 4,29% dos registros.
A
maior concentração está no Sudeste, tanto no número total de nascimentos quanto
no de pais ausentes, seguido por Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
O
levantamento considera dados de 1º de janeiro a 8 de agosto e é administrado
pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil),
responsável por reunir informações de nascimentos, casamentos e óbitos
registrados em todos os cartórios do país.