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Registre-se Brasil Parente: entrega de documentos é reconhecimento pleno de direitos dos povos indígenas
“Estamos reunidos hoje, às margens do Rio Negro, neste
território onde o tempo não se mede apenas em calendários, mas também em
ciclos, cantos e cosmologias, para afirmar que o Brasil que queremos não pode
mais adiar o reconhecimento pleno dos direitos dos povos indígenas.” Com essa
declaração, o corregedor nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell Marques,
fez o lançamento do Subprograma Registre-se: Brasil Parente, nesta
segunda-feira (13/10), em São Gabriel da Cachoeira (a 850km de Manaus).
O evento, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça,
contou com a colaboração do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e da
Corregedoria-Geral de Justiça do Amazonas (CGJ-AM). A ação representa um passo
importante para a erradicação do sub-registro e a promoção da documentação
civil para os povos indígenas do país.
São Gabriel da Cachoeira foi escolhido como local para
ser lançado o subprograma por ser considerado, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade mais indígena do Brasil. A
localidade, também de acordo com dados do IBGE, é o terceiro maior município em
extensão territorial no país, onde habitam cerca de 23 etnias, e foi o primeiro
a reconhecer três idiomas indígenas como oficiais, além do português.
“Já não se trata de apenas levar o Estado aos
territórios, mas de assegurar que os próprios povos construam, a partir de sua
autodeterminação, as formas pelas quais desejam ser reconhecidos”, destacou
Campbell. Ele afirmou que não se trata de impor o registro e a documentação
civil, mas de garantir, com respeito, o acesso pleno e informado a esse direito
para aqueles e aquelas que assim o desejarem. “É dever do Estado abrir
caminhos, e não encerrar identidades.”
A solenidade realizada no Centro de Educação de Tempo
Integral Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira contou com a presença do presidente
do TJAM, desembargador Jomar Ricardo Saunders Fernandes; do corregedor-geral de
Justiça do Amazonas, desembargador José Hamilton Saraiva dos Santos; do
presidente do Sistema Permanente de Mediação de Conciliação (Sispemec/TJAM),
desembargador Délcio Luis Santos; e do prefeito de São Gabriel da Cachoeira,
Egmar Velasques Saldanha. O conselheiro João Paulo Schoucair, coordenador do Fórum
Nacional do Poder Judiciário para Monitoramento e Efetividade das Demandas
Relacionadas aos Povos Indígenas (Fonepi),
e as conselheiras Daiane Nogueira de Lira e Daniela Madeira participaram
do lançamento da ação.
Além do lançamento do Registre-se: Brasil Parente, —
seguido de mutirão de atendimento que prosseguirá até o dia 16 de outubro — a
população de São Gabriel da Cachoeira foi beneficiada também com a inauguração
de uma unidade do Ponto de Inclusão Digital (PID) e de uma unidade do Centro
Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania (Cejusc); com a realização de
um casamento coletivo; e com o lançamento da pedra fundamental, marcando o
início da construção do novo Fórum de Justiça da comarca.
Base integrada
Entre os principais objetivos do Brasil Parente,
estão, além do incentivo à aplicação da Resolução Conjunta CNJ/CNMP n. 12/2024,
a promoção da consolidação de uma base integrada de dados sobre o sub-registro
civil de povos indígenas em um sistema público nacional — o Painel Nacional de
Identificação Civil Indígena, projeto que recebeu o nome de Urucum.
O painel possibilitará a coleta de dados, com o apoio
de todas as entidades parceiras, e a organização de informações para o
planejamento e o acompanhamento das ações do Subprograma Registre-se: Brasil
Parente, com participação comunitária efetiva e identificação de áreas
prioritárias de vulnerabilidade — a exemplo dos territórios indígenas com os
maiores índices de sub-registro civil.
O corregedor-geral de Justiça do Amazonas,
desembargador José Hamilton Saraiva dos Santos, afirmou que a união de esforços
é uma ação concreta em respeito aos povos indígenas. “Aqui, no extremo noroeste
do nosso Amazonas, o Subprograma Registre-se: Brasil Parente nasce como um
gesto concreto de reconhecimento e respeito aos povos originários.”
Ponto de Inclusão Digital
Nesta mesma segunda-feira (13/10), como parte das
programações em São Gabriel da Cachoeira, o Poder Judiciário Estadual
inaugurou, na comunidade indígena Iauaretê, uma unidade do Ponto de Inclusão
Digital (PID). Já considerado um marco histórico para a Justiça brasileira, o
PID será o primeiro do país a ser instalado em uma comunidade de povos
originários, incluindo a oferta de serviços de perícias médicas.
Os PIDs são espaços equipados com computadores,
internet e profissionais da comunidade preparados para oferecer serviços de
todos os órgãos parceiros do projeto por meio de ferramentas digitais.
Além do PID, o tribunal amazonense inaugurou nesta
segunda-feira, o Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania
(Cejusc) “Leonardo Saunders Fernandes Santos”.
Fonte: Agência CNJ de Notícias