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Trabalho em rede garante direitos da população em situação de rua
O Judiciário assumiu um
papel relevante na reflexão sobre a questão da população em situação de rua. A
afirmação é do ministro do Superior Tribunal de justiça (STJ), Reynaldo Soares
Fonseca, durante a abertura do II Encontro Nacional PopRuaJud, promovido pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nessa quarta-feira (13/8), em São Luís
(MA).
Segundo Fonseca, a partir
da iniciativa do PopRuaJud, o Judiciário tem garantido acesso efetivo dessa
população a alguns serviços oferecidos pelo Estado, além de combater o estigma
de que a condição de rua é um argumento para a segregação.
Em sua palestra, o
ministro lembrou a questão da fraternidade, que embasou a construção da
Constituição Federal. Para ele, essa condição inspira não apenas a
magistratura, mas também advogados, defensores públicos e Ministério Público
afazer uma “defesa intransigente daqueles que se sentem injustiçados e precisam
ouvir do estado uma solução”.
O trabalho em rede, que
inclui e exige a participação das próprias pessoas em situação de rua, traz um
tratamento igualitário a todos, considerando a todos no mesmo patamar,
enxergando as dificuldades e construindo respostas. “Esse fenômeno [do
crescimento do número de pessoas em situação de rua] é multicasual e
multicausal. É complexo, envolve fatores como dependência química, deficiência
física, desemprego, saúde mental e histórica negligência”.
O ministro ressaltou que
a falta de acesso à documentação, saúde e assistência social reforça o ciclo de
vulnerabilidade. “Nesse momento, as cortes, advocacia e todo o sistema de
justiça e de todos os movimentos sociais, compartilham da reflexão do Poder
Judiciário sobre valores constitucionais como liberdade, igualdade, segurança.
E isso aponta para uma sociedade que busca a solução pacífica das
controvérsias”.
Reynaldo Fonseca destacou
ainda a preocupação atual com a era digital e a escravidão moderna. “Precisamos
tratar as questões coletivas de forma coletiva. E aqui vale a proposta de
solidariedade, de respeito, de compartilharmos a condição de acolhimento”.
Nesse contexto, o CNJ, a
partir da ideia da Resolução CNJ n. 425/2021,
que instituiu a Política Nacional de Atenção às Pessoas em Situação de Rua,
reconheceu, de fato, os direitos dessa população. “A população em situação de
rua não participa da inclusão digital, mas são sujeitos de direito para a
construção constitucional – tudo com vocês, nada sem vocês – de uma sociedade
igual, segura e fraterna”, afirmou.
Encontro Nacional
Durante a abertura do
evento, o coordenador do Comitê Nacional PopRuaJud, conselheiro Pablo Coutinho
Barreto, disse que o evento traz visibilidade a um problema crônico, que é a
violação dos direitos das pessoas que não têm onde morar. “Precisamos falar e
lutar constantemente. E contamos com a participação dos Movimentos de Pessoas
em Situação de Rua, porque é impossível pensar e buscar soluções sem eles”.
Barreto destacou ainda
que o Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico) registrou mais de 340 mil
pessoas em situação de rua. “Para atuar com este tema, é preciso sair do
gabinete e conhecer a realidade. Só assim poderemos propiciar a essas pessoas
formas de fazer uma transição e se inserir novamente na sociedade”, destacou.
O presidente do Tribunal
de Justiça do Maranhão (TJMA), Froz Sobrinho, e a coordenadora-geral do Comitê
PopRua local, desembargadora Maria das Graças Peres Soares Amorim destacaram a
relevância do trabalho em rede. Eles informaram que desde a criação do Comitê,
que reúne representantes multissetoriais e interinstitucionais, já foram
realizados 14 mutirões e atendimentos a mais de sete mil pessoas.
A representante do
Movimento de População de Rua, Rafaelly Machado, e o coordenador do Comitê
Intersetorial do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Anderson Lopes
Miranda, contaram que foram pessoas que viveram em situação de rua. De acordo
com eles, conseguiram sair dessa condição porque tiveram acesso aos serviços do
Estado, e agora lutam pelos direitos dessa população. Apesar de ressaltarem a
importância do diálogo iniciado pelo Judiciário, reforçaram que é preciso
avançar mais e rápido, “porque essa população tem pressa”.
O governador do Maranhão,
Carlos Brandão, lembrou que o “debate constrói a melhor solução. A questão da
população em situação de rua não é um problema, mas é um desafio”, afirmou.
Também participaram da
cerimônia a presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão é a Iracema Vale,
e o Presidente da República na gestão 1985-1990, José Sarney. O
evento segue até o dia 15 de agosto, tratando do tema Justiça Emancipatória e
Liberdades Substantivas. Nesta quinta-feira (14/8), os trabalhos serão
realizados na Universidade Ceuma Renascença, com debates em seis oficinas
temáticas: Cidadania, Pessoas em Situação de Rua e o Sistema Criminal, Gestão e
Governança, Violência Estrutural, Moradia Adequada e Empregabilidade e Justiça
Restaurativa.
Confira
a íntegra da abertura do II Encontro Nacional PopRuaJud.
Fonte:
CNJ